A banda de rock Scalene, natural de Brasília - DF, tem ganhado destaque nos últimos meses no cenário rockeiro. Com quatro anos de existência e algumas dificuldades normais para levar o som adiante, a galera do cerrado mostrou que tem persistência e ideais, para quem já os acompanhava, e hoje estão prestes a lançar um CD conceitual que promete ser um trabalho muito diferente do que visto anteriormente. Scalene é hoje, sem dúvida um dos expoentes do rock independente no Brasil.
A banda é formada por Gustavo Bertoni no vocal, Lucas Furtado no baixo, Philipe Nogueira na bateria e Tomás Bertoni nas guitarras, com quem tive a oportunidade de conversar um pouco sobre a história deles e de alguns aspectos em cima deste novo trabalho.
Quais as principais influencias de vocês, em modo geral?
Tomás Bertoni: Olha, desde crianças ouvimos Beatles e Metallica. Beatles por influência dos nossos pais e Metallica pelos amigos. Além dessas, as que mais nos influenciaram até aqui com certeza foram Thrice e Alexisonfire.
E nesse último trabalho, buscamos referências do Queens of The Stone Age, Radiohead e O'Brother.
E em meio a esses 4 anos, a vocalista Alexia deixou a banda no ano passado (2012), como foi a perda dela e mudou alguma coisa na proposta de som da Scalene?
Tomás Bertoni: Na verdade não foi uma perda, em Agosto do ano passado sentamos todos juntos e decidimos que era melhor continuarmos sem ela na banda. Foi difícil por termos muito carinho por ela. Musicalmente falando foi tranquilo, rapidinho nos encaixamos e começamos a fluir bem melhor nas composições e nos shows.
Para que a galera possa saber, quais as temáticas vocês trabalham. Resuma o som da Scalene:
TB: O novo trabalho é um álbum duplo. A primeira parte, a "Real", é composta de faixas bem rock/post-hc com uma sonoridade mais perto do que já havíamos feito no nosso primeiro CD “Cromático”. Não há tantas camadas e arranjos, ele é energético e vai direto ao ponto. Na segunda parte, a "Surreal", exploramos influências novas em um cenário bem denso, cheio de arranjos e instrumentos diferentes. Descrevi o novo álbum por ele ser a nossa nova cara, esperamos que a galera goste.
Sabendo da tradição da cidade de Brasilia para o rock nacional, e como o Scalene está se destacando no cenário, vocês sentem esse peso por serem de um estado onde nasceu bandas como, Capital Inicial, Legião Urbana, Raimundos e algumas outras?
TB: Não, nenhum peso. Quando tocamos pelo país, isso de nós sermos de Brasilia raramente vem à tona quando conversamos com fãs, produtores e etc... Aqui em Brasilia já somos bem conhecidos e agora estamos levando isso pro Brasil.
Nesse tempo de grupo, teve alguma dificuldade maior do qual já passaram?
TB: O segundo semestre do ano passado para nós foi bem complicado, nas nossas vidas pessoais e na banda.
Estávamos com muitas propostas de gravadoras e investidores e foi difícil conciliar shows, reuniões sobres essas propostas em São Paulo, RJ e Brasilia além dos problemas pessoais dos integrantes.
Ao optarmos por nos mantermos independentes bateu uma insegurança enorme, o que também deixou o clima bem tenso e ao mesmo tempo, uma pressão maior ainda em cima de nós. Agora vemos que foi o melhor a se fazer mesmo. O Real/Surreal nunca existiria se tivéssemos assinado com alguém.
O que isso auxiliou para a banda num todo pelo lado positivo?
TB: Com certeza experiência de vida e inspiração pro novo o disco (risos)
Como avaliam os meios tecnológicos de divulgação da internet hoje. Redes sociais ajudam o suficiente?
TB: Não achamos que seja o suficiente pra "estourar" algum artista. Mas é de grande valia pra chamar atenção de mídias "tradicionais", de gravadoras e produtores de shows...
Mas, você enxerga um lado negativo da internet para uma banda?
TB: Sim, pois a facilidade que é montar e lançar uma banda. Ter uma banda boa e profissional não é fácil. Mas hoje em dia montar uma (banda), fazer página no facebook e gravar um acústico horrível no Adobe Audiotion e se lançar é facílimo!
Tem centenas fazendo isso por ai. Isso satura os ouvintes, e com coisa ruim ainda por cima. Nós fizemos isso no começo inclusive! Éramos horríveis e já queríamos gravar, fazer comunidade no orkut, fazer show, até que paramos pra pensar que isso não seria benéfico pra gente. Ficamos vários meses treinando e ensaiando até sentir que dava pra seguir em frente de verdade.
Falando dessa atualidade da Scalene. Nos diga, de quem foi a ideia do último videoclipe "Danse Macabre"?
TB: Do Gustavo (vocal). Ele tinha o mesmo sonho com frequência que ele deu a ideia de inspiração pro clipe. Deu sorte que esse sonho (ou pesadelo, não sei) combinava com a música, a letra e com o conceito do "Real/Surreal".
Como foi a preparação dele? E como está a repercussão dela pela crítica e por fãs?
TB: As meninas da 'MyNameisFilms' fizeram um ótimo trabalho de produção e direção de arte. Passamos semanas alinhando as referências, trocando idéias até que chegou a hora de arranjar o local pra gravar. A boate Trackers foi perfeita. A parte com máscaras foi na garagem e a parte sem máscaras num ambiente do segundo andar do prédio.
A repercussão foi ótima. Estamos nos arriscando bastante com esse novo trabalho e até agora tem dado certo e a galera tem entendido e curtido.
Sobre o novo trabalho, do qual tem um lado conceitual. Como foi a preparação dela e a inspiração que buscaram?
TB: Logo que começamos a compor vimos que haviam músicas um pouco distantes umas das outras em termos de estilo e sonoridade. Fomos sentindo uma necessidade de organizá-las de forma que todas elas fizessem sentido como parte do mesmo CD e um álbum duplo pareceu uma boa ideia. Essa decisão “prática” acabou nos dando uma direção artística e continuamos compondo já com esse objetivo em mente. Dezoito faixas nos deu uma liberdade maior pra mostrar todas nossas influências.
Outros clipes desse disco serão lançados? Podem adiantar?
TB: Sim! Já estamos com idéias para os próximos dois clipes, vamos ver se eles vão sair do papel mesmo.
O show de lançamento é em Cuiabá. Tem algum outro lugar já na agenda da banda para apresentação do novo álbum?
TB: Na verdade o show de Cuiabá é apenas um dos vários shows de lançamento que faremos. Tocamos lá ano passado, foi ótimo e a produtora nos convidou pra repetir a dose. Já fizemos em Fortaleza inicio de Julho e nas próximas semanas vamos pro Rio de Janeiro, Brasilia, São Paulo e Belém.
Ahh, e conta pra gente. Algo de inusitado e engraçado que já ocorreu com vocês durante estes anos?
TB: Fomos tocar em Unaí/MG final de 2011 e tudo corria bem, as bandas da cidade estavam mandando ver, até que começa um temporal que alaga completamente o palco e o show é cancelado. Tivemos que voltar pra casa sem tocar, pelo menos Unaí é pertinho daqui! (Risos).